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Extrema direita e violência

  • Jorge Branco
  • 16 de nov.
  • 3 min de leitura
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A formação e consolidação das correntes políticas de extrema direita estão vinculadas à utilização da violência como tática e como expressão da ideologia. A violência é invocada e legitimada por uma defesa ideológica de valores, costumes e medo. A violência foi e é invocada em defesa da raça superior, da superioridade branca, da ordem patriarcal, da família tradicional, do povo, da nação, das “pessoas de bem” e pelo restabelecimento da ordem perdida. Enfim, de uma plêiade de motivações que nada tem a ver com a ideia de progresso civilizatório, igualdade e equidade.


A violência como recurso metodológico tem expressão recorrente na história. O fascismo e o nazismo clássicos cresceram com base na mobilização de grupos paramilitares, cujos objetivos eram a propaganda e a contenção de grupos políticos adversários. Paramilitares de extrema direita, como os Milizia Volontaria per la Sicurezza Nazionale, os camisas negras de Mussolini ou os Sturmabteilung, tropas de assalto de Hitler, tinham o sentido de intimidar e projetar uma imagem de força e autoridade. De exercer, metodologicamente, a luta política até a eliminação do adversário e a definição da supremacia.


"A militarização da sociedade e, até da polícia, cumpre esse roteiro de transformar a política em um processo de dominação e supremacia"

A militarização da sociedade e, até da polícia, cumpre esse roteiro de transformar a política não em um processo de negociação e concertação, mas em um processo de dominação e supremacia. Assim se explica a ideia de que violência seja associada ao autoritarismo e ditaduras e não às democracias. Ainda que nelas, as democracias, a violência como método e tática da política não somente possa se expressar como ao longo da história se expressou efetivamente.


O governo húngaro de Viktor Orbán é o paradigma ideológico dessa ideia de democracia autoritária. Ele expressa o conceito de “democracia majoritária” que lhe daria legitimidade para violar direitos humanos, reprimir manifestantes e abusar da força policial, exercer violência contra imigrantes, contra setores LGBTQIA+ e esvaziar as instituições democráticas. Tudo isso, baseado no mandado majoritário adquirido em uma eleição fundante.


Com esta racionalidade se deve analisar a operação política que a extrema direita faz para que a segurança domine a pauta e a agenda do debate público. A complexidade do enfrentamento ao crime organizado, que demonstra habilidade em articular capacidades militares e econômicas com capacidade de influência política, torna as soluções violentas e primárias mais compreensíveis para a sociedade do que as soluções planejadas e estruturais para o asfixiamento do crime organizado.


Para a sociedade foi mais compreensível a Operação Contenção do governo Castro no Rio de Janeiro sobre o Comando Vermelho do que a Operação Carbono Oculto do Ministério Público de São Paulo combinada com a Operação Quasar da Polícia Federal sobre o PCC. A primeira tem resultados absolutamente questionáveis, quanto à legalidade e quanto a eficácia no combate ao crime. Ao contrário, as operações contra o PCC demonstram muito mais eficácia ao retirar da posse da facção criminosa aproximadamente R$ 3,2 bilhões.


A violência visível, entretanto, difunde uma mensagem de efetividade, a partir de uma posição de autoridade e de iniciativa. Imagens componentes da política de caráter neofascista que alimenta a extrema direita. O crescimento do apoio desta política pode consolidar um paradigma ao modelo do governo de Nayib Bukele, em El Salvador. Se Orbán serve como paradigma político, Bukele está sendo erigido como o modelo de gestão dessa política de violência estatal.


Esses modelos são grandes riscos para a democracia. O que significa dizer um grande risco para os movimentos sociais, para a luta por direitos sociais e, até mesmo, à soberania nacional.


Será preciso combater esse paradigma em todas as frentes, o que inclui as iniciativas parlamentares da extrema direita, tais como o substitutivo que o bolsonarismo tenta emplacar no projeto de lei do combate às facções criminosas. Também é preciso demonstrar de maneira fática a superioridade e maior eficácia da estratégia de confronto à cúpula de ricos das organizações criminosas, com uso de inteligência, e não da violência generalizada contra a base pobre do crime organizado.


* Publicado originalmente no Brasil de Fato.

Editado por: Katia Marko

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